segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sabão de Bola


José Antônio de Ávila Sacramento

(Ao povo do distrito são-joanense de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno)
“Vai juntano num balaio a cinza tirada do burraio ô das trempe
do fugão de lenha, forrano o fundo do balaio antes com fôia de bananêra,
qui é prá num vazá tudo. É bão moiá um tiquinho veiz ô ôtra, qui é pra
umidecê divagazinho. Pra mode de prepará a ticuada, botá o balaio dento
d’uma gamela ô tacho bem grande, jogá água quente purriba da cinza e
mexê. Mio é socá mucado no barrilero, com soquete, qui é prá mode saí a
barrela. Vai saino divagazinho, um cardo preto, qui é qui nem soda, e ele é
tiro e queda prá cortá a gurdura. Se num socá bem a cinza, a ticuada vai
ficá rala, num vai apurá e vai custá virá sabão, intão tem qui prestá
tenção: ela tem qui sê mais encorpada. Dento do tacho põe a gurdura, o
sebo, mais a ticuada, um mucadinho de soda se tivé jeito é bão tamém, aí
junta com mais a água e põe na trempe prá frevê. Com uma cuié de pau,
das bem grande, vai mexeno o tacho. Tem que cuidá do fogo e prá num
queimá a pessoa! Pode pô umas fôia de assa-pêxe, de alicrim, de
manjiricão, de mamão... Tudo assim, bem picadinho... Quando a mistura
começá a querê sortá umas bôia é pruquê já tá quase no ponto. Prá testá se
vai pricisá mais ticuada, pega um mucadinho e joga numa caniquinha
meiada d’água. Se aparecê uma nata purriba d’água, é siná de que inda
tem gurdura, aí pega e põe mais ticuada e vorta a misturá. Pode prová
tamém, num faiz male não: põe um mucadinho na ponta da língua e se inda
tivé gosto forte de ticuada é pruquê inda num apurô, siná de qui inda num
tá bão. O qui num pode é deixá pegá mau oiado dos seca-pimentêra...
Dipois de pronto, deixa esfriá prá mode incorpá, indurecê, e aí, inda mêi
morno, é só fazê as bola, inrolano elas na parma das mão. Pra ficá bão,
dispois tem de imbruiá as bola na paia de bananêra ô de mio, assim cumo
se tivesse impaiando ovo...Quanto mais véio, mais curtido ele vai ficá e mió
fica o sabão!”.

Segundo uma especialista (professora Amélia Hamze, da
FEB/Barretos e CETEC/Barretos) “a reação de saponificação é uma reação
de hidrólise alcalina de uma gordura ou óleo e a conseqüente neutralização
do ácido graxo formado (ácido de um hidrocarboneto de cadeia longa) pela
base forte presente no meio. Por exemplo, na reação entre a triestearina
(gordura) e a potassa cáustica (dicuada), uma das possíveis reações
químicas, teríamos a formação de glicerina e do estearato de potássio, um
sal mais conhecido por sabão”.

Concluindo: os nossos antepassados nos legaram, mesmo sem ter
os conhecimentos formais de química, o domínio e a interação com esta
ciência; eles sabiam calcular bem as reações e os processos, sem nunca
terem freqüentado uma só aula de química. Fabricavam a dicuada sem saber
que o que estavam fabricando a potassa cáustica ou o hidróxido de potássio.

Lidavam com o sebo, com o toicinho e com a manteiga sem saber que
aquilo era a triestearina. E assim, como notáveis “químicos”, fabricavam
um saponáceo da mais alta qualidade: o bom, o tradicional e o já quase
extinto sabão-de-bola!
Em tempo: será que alguém teria um autêntico sabão-de-bola para
me presentear?

3 comentários:

  1. Boa tarde eu faço este sabão em minha casa passa seu endereço para o e-mail nabsnatal@yahoo.com.br que lhe envio uma bola.
    Abraços.
    Natalino

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  2. Gente, eu ja tomei banho com esse sabao, que mamae ate hoje faz
    Sou de Corrente Piaui, hoje residente em samambaia Sul/DF
    Abraços
    Ivaldo Gitirana

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  3. Eu estou em São João del rei e preciso muito comprar esse sabão para minha sobrinha q tem dermatite e o médico indicou mas teremos algo caseiro sem ser industrializado

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