terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mineirices

Crendices e Superstições

Antigamente, as pessoas - a grande maioria analfabeta - não entendiam o porquê da conseqüência de determinado fato ocorrido ou de determinada atitude tomada. Apenas sabiam que alguns acontecimentos ou atitudes poderiam lhes trazer sorte ou lhes fazer mal. Hoje, já existem estudos sobre essas crendices e superstições, e se tem como conclusão o fato de que todas têm um motivo histórico, social e, até mesmo, científico.

Exemplo:

Não deixar as roupas pelo avesso. Acredita-se que esta atitude causa “atrasos à Vida”.

Origem: antigamente não havia luz elétrica e a iluminação a óleo de mamona nas candeias era muito precária; animais peçonhentos eram comuns nas regiões tropicais; não existiam inseticidas e nem soros contra as picadas venenosas. Por outro lado, as roupas femininas, sobretudo, eram muito volumosas. Se essas roupas não fossem bem colocadas em seus devidos lugares, atrairiam facilmente insetos e répteis, que se esconderiam em suas dobras. Ao se vestirem, as pessoas corriam o risco de serem picadas e de ficarem inválidas ou de morrer. Daí, a verdadeira razão da crendice de não deixar as roupas pelo avesso ou emboladas e jogadas em qualquer lugar, pois estas atitudes poderiam causar atrasos à vida.

Instrumentos de Trabalho

São os diversos instrumentos confeccionados pelo povo mineiro para atender suas próprias necessidades de trabalho, na maioria das vezes, em cidades pequenas e áreas rurais. Mesmo com todas as facilidades oferecidas pela modernidade, esses instrumentos são feitos de madeira, ferro batido, taquara, couro, barro, pedra sabão e outros materiais. Em geral, recebem toques pessoais que os tornam ainda mais adequados.

Hoje, no que diz respeito à culinária, muitos instrumentos de trabalho estão sendo retomados e revalorizados. Isso se deve à busca por uma melhor qualidade na produção de alimentos, pela preservação do sabor autêntico e por um maior aproveitamento dos valores nutritivos de cada alimento, teoria preconizada pelos homeopatas e naturalistas.

Assim, hoje estão de volta os pilões de madeira usados para descascar o arroz, as gamelas para sovar as massas e as colheres de pau para mexer os doces. Para as tradicionais doceiras de Minas, quando se utiliza a colher de pau, o doce tem mais durabilidade e o sabor da fruta torna-se mais intenso. As boas cozinheiras acreditam também que:

· o organismo absorve melhor o ferro do feijão e das verduras refogados nas panelas de ferro batido (ferreiros), evitando e curando a anemia;

· o alho e outros condimentos socados no pilão de madeira são mais saudáveis;

· os doces de frutas feitos em tachos de cobre preservam mais a cor da fruta que está sendo adocicada e são mais saudáveis quando comparados aos doces feitos nos tachos de alumínio;

· os fornos feitos com barro de cupim assam por igual quitandas e carnes, mantendo os valores nutritivos do alimento e dando-lhes melhor sabor.

Aliás, é muito bom lembrar o quanto a comida feita em panelas de pedra e em fogões a lenha apresenta-se muito mais apetitosa às exigências do paladar. Nesse contexto, a comida mineira é uma atração à parte, com sabores e cores das mais variadas.

Ainda que a tecnologia seja imprescindível a determinadas áreas de trabalho no campo, a atual situação socioeconômica força determinados trabalhadores a continuarem utilizando todo esse instrumental. Por outro lado, encontram-se em Minas Gerais inúmeros fazendeiros que, por mero saudosismo, ainda fazem questão de preservar a memória histórica e cultural de suas respectivas propriedades. Eles adotam vários tipos de instrumentos de trabalho, não só como utilidade, mas como meio de difundir o antigo dia-a-dia da fazenda e atrair visitantes, sobretudo aqueles adeptos de produtos mais naturais.

Como lazer e diversão, já ocorrem encontros sociais daqueles que preservam a memória dos diversos instrumentos e também dos que os produzem. Eles fazem desses encontros verdadeiros atrativos turísticos e transformam esses instrumentos em produtos artesanais para decoração a serem adquiridos pelos milhares de turistas que hoje vêem o campo como um grande atrativo. É o caso do Encontro de Carros de Boi, que hoje já ocorre em sete cidades mineiras e dos Encontros de Artesãos que, nas áreas rurais, ainda fazem monjolos e moinhos d’água, barcos e remos, arreatas, arreios, berrantes e chicotes, peneiras, cestas e balaios para colheitas diversas, pás para secagem de café, bateias para garimpos, teares, tornos para esculpir panelas de barro e de pedra etc. Tudo isso, sem se esquecer dos instrumentos peculiares das bordadeiras como navetes, bastidores, almofadas para a renda de bilro, os bilros, agulhas de osso, etc.



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